A tabela MATURAÇÃO

Sobreviver à maturação sexual e ser capaz de contribuir para o pool genético, define o fitness de um individuo, e é crucial para a sobrevivência de uma população. Para a gestão de um regime que assegure, na fase explorada, que um número suficiente de juvenis chegue à primeira maturação, requer usualmente informação sobre o tamanho e idade à qual o individuo atinge essa maturação.

É conhecido que a maturidade sexual está associada a mudanças fisiológicas e comportamentais, que mais tarde por vezes se manifestam sob a forma de agregados de reprodutores, migração, territorialidade. A relação entre estas mudanças biológicas e crescimento, mortalidade e longevidade foi estudada, entre outros, por Beverton & Holt (1959), e Pauly (1984), entre outros (veja a Caixa 26).

Caixa 26 . A capacidade reprodutora dos peixes.

Alguns tópicos que parecem óbvios como a relação entre o crescimento e a reprodução dos peixes, são no entanto mal compreendidos. O conhecimento convencional, adoptado em inúmeros artigos, livros e relatórios, é de que os peixes tendem a crescer mais rapidamente até atingirem a primeira maturação e, a partir dessa altura, crescem mais devagar "porque a energia utilizada anteriormente no crescimento somático (L ¥) é agora utilizada para reprodução". Esta hipótese pode ser denominada por "Via reprodutora".

Obviamente que é provável que esta hipótese esteja errada e uma alternativa foi proposta: é o abrandar do processo de crescimento que despoleta a maturação, em vez de ser a maturação e desova a provocar a diminuição do crescimento (Iles 1974; Koch & Wieser 1983; Pauly 1984; Thorpe 1987). Além disso, devido ao forte crescimento das brânquias dos peixes capazes de alcançar grande tamanho, o crescimento do corpo pode continuar para além de Lm, determinando ainda uma capacidade reprodutora Lm/L¥ fraca (Pauly 1984).

Para avaliar estas hipóteses, podemos examinar os seus corolários, ou seja, as previsões esperadas. Sabe-se que muitos peixes pequenos crescem rapidamente até um tamanho próximo de L¥ , e depois desovam e reduzem o crescimento drasticamente. Pelo contrário, peixes de grandes dimensões aproximam-se de L¥ gradualmente, com uma redução no crescimento perto de ½ L¥ quando começam a desova. Este facto produz a tendência de decrescente observada no gráfico de capacidade reprodutora vs comprimento assimptótico (Fig. 37), que corrobora a segunda das hipóteses acima descritas. Por outro lado, a primeira hipótese não explica um gráfico desta natureza, e a sua interpretação iria necessitar outras hipóteses ad hoc.

Referências

Iles, D. 1974. The tactics and strategy of growth in fishes, p. 331-345. In F.R. Harden Jones (ed.) Sea fisheries research. Elek Science, London.

Koch, F. and W. Wieser. 1983. Partitioning of energy in fish: can reduction in swimming activity compensate for the cost of production? J. Exp. Biol. 107:141-146.

Pauly, D. 1984. A mechanism for the juvenile-to-adult transition in fishes. J. Cons. CIEM 41:280-284.

Thorpe, J.E. 1987. Smolting versus residency: developmental conflict in salmonids. Am. Fish. Soc. Symp. 1:244-252.

Daniel Pauly

 


Fig. 37. Capacidade reprodutora para vários peixes. Repare na tendência decrescente e veja a Caixa 26 e gráfico 38 para a interpretação).

 
Fontes
 
 
 
 
Existem registos de maturação de mais de 900 espécies provenientes de mais de 400 referências

A tabela MATURAÇÃO contém mais de 2000 registos sobre o comprimento e idade da primeira maturação sexual de mais de 900 espécies, extraídas de mais de 400 referências. Entre as maiores fontes de informação encontra-se Beverton e Holt (1959), Compagno (1984a, 1984b), e van der Elst & Adkin (1991).

Na literatura, a informação sobre a maturação sexual aparece sob a forma de várias categorias relacionadas entre si:

  1. moda ou comprimento médio, ou idade, i.e., O comprimento ou idade ao qual 50% da população atinge a primeira maturação sexual.

  2. o comprimento ou idade ao qual, uma certa percentagem (não 50%) da população atinge a maturação.

  3. o comprimento ou idade do menor peixe maturo

  4. o comprimento ou idade do maior peixe que atinge a 1ª maturação sexual.

  5. como intervalo de comprimento ou idade do menor (mais novo) ao maior (mais velho) peixe maturo (3 e 4)

  6. como intervalo de tamanhos e idades médios de maturação

  7. valores não qualificados

Inicialmente esta tabela incluía apenas informação sobre a moda e comprimento médio ou idade (categoria 1). Esses valores eram usualmente derivados de uma interpolação linear, análise de probabilidades, pelo ajustamento da curva logística, ou então através de um conjunto estado de maturação/comprimento ou idade. No entanto, na maior parte dos casos, o método utilizado não é mencionado. A tabela foi sendo modificada para acomodar as diferentes informações existentes.

Campos

A 1ª categoria entra nos campos Lm e tm. Os campos de intervalo acomodam a informação das categorias 2 a 7. Valores não qualificados (categoria 7) entram como valores mínimos no campo intervalo. Nalguns casos, o campo Comentários, esclarece algum valor entrado.

Estado

Para verificar o comprimento da 1ª maturação sexual (Lm), verifica-se se a razão correspondente L ¥/Lm se mantém dentro do intervalo conhecido para os peixes (Beverton & Holt, 1959).

 


Fig. 38. Mesmos dados da Fig. 37, mas apresentados sob a forma logLm em função de logL¥/Lm. A relação não é estritamente proporcional: Lm aumenta proporcionalmente menos que L¥/Lm, o que explica a capacidade reprodutora baixa quando L¥ aumenta na figura 37.

 
Como lá chegar

Chega-se à tabela MATURAÇÃO clicando no botão Biologia na tabela ESPÉCIES, no botão Reprodução na tabela BIOLOGIA, e no botão Maturação na janela REPRODUÇÃO. Se clicar duas vezes numa das linhas da tabela LISTA DE ESTUDOS DE MATURAÇÃO pode obter informações relativas ao estudo designado. Chega-se ao relatório da Maturação por família, clicando no botão Dinâmica Populacional Por Família na janela RELATÓRIOS PRÉ-DEFINIDOS e no botão Informação Sobre Maturação na janela DINÂMICA POPULACIONAL.

Referências

Alm, G. 1959. Connection between maturity, size, and age in fishes. Inst. Freshwat. Res. Rep. No. 40, 145 p.

Beverton, R.J.H. and S.J. Holt. 1959. A review of the lifespans and mortality rates of fish in nature, and their relation to growth and other physiological characteristics, p. 142-180. In G.E. Wolstenholme and M. O’Connor (eds.) CIBA Foundation Colloquia on Ageing. Vol. 5. The lifespan of animals. J. and A. Churchill, Ltd., London. 344 p.

Compagno, L.J.V. 1984a. FAO species catalogue. Vol. 4. Sharks of the world. An annotated and illustrated catalogue of shark species known to date. Part 2. Carchariniformes. FAO Fish. Synop. 4(125)Pt. 2, 655 p.

Compagno, L.J.V. 1984b. FAO species catalogue. Vol. 4. Sharks of the world. An annotated and illustrated catalogue of shark species known to date. Part 1. Hexanchiformes to Lemniformes. FAO Fish. Synop. 4(125) Pt. 1, 249 p.

Dorel, D. 1985. Poissons de l’Atlantique nord-est relations taille-poids. Institut Français de Recherche pour l’Exploitation de la Mer.

Froese, R. and C. Binohlan. 2000. Empirical relationships to estimate asymptotic length, length at first maturity and length at maximum yield per recruit in fishes, with a simple method to evaluate length frequency data. J. Fish Biol. 56:758-773.

García-Cagide, A., R. Claro and B.V. Koshelev. 1994. Reproducción, p. 187-262. In R. Claro (ed.) Ecología de los peces marinos de Cuba. Inst. Oceanol. Acad. Cienc. Cuba.

Kailola, P.J., M.J. Williams, P.C. Stewart, R.E. Reichelt, A. McNee and C. Grieve. 1993. Australian fisheries resources. Bureau of Resource Sciences, Canberra, Australia. 422 p.

Kromer, J.-L. 1994. Rio Grande de Buba: Bio-ecologie et parameters environnementaux. UICN/Ministere des peches de Guinee-Bissau. 119 p.

Last, P.R. and J.D. Stevens. 1994. Sharks and rays of Australia. CSIRO, Australia. 513 p.

Lévêque, C.L. 1997. Biodiversity dynamics and conservation: the freshwater fish of tropical Africa. ORSTOM. Cambridge University Press, UK. 438 p.

Pauly, D. 1984. A mechanism for the juvenile-to-adults transition in fishes. J. Cons. CIEM 41:280-284.

van der Elst, R.P. and F. Adkin, Editors. 1991. Marine linefish: priority species and research objectives in southern Africa. Oceanogr. Res. Inst. Spec. Publ. No. 1, 132 p.

Crispina Binohlan