A tabela NOMES COMUNS

Os nomes comuns são o que a maior parte das pessoas sabe acerca dos peixes

Afirmar que os nomes comuns dos peixes são o seu atributo mais importante, é subvalorizar a questão. De facto, os nomes comuns são, muitas das vezes, tudo o que as pessoas sabem acerca da maioria dos peixes. Assim, a FishBase não ficaria completa sem uma lista de nomes comuns, facto considerado desde o início (Froese, 1990) e de que resultou a compilação de mais de 89.000 nomes comuns, provavelmente a maior lista no género. Levou-nos muito tempo, entretanto, a perceber que cada par dos campos "país" e "língua" definiam uma cultura, e que isso representava o que uma grande fracção das pessoas dessa cultura sabe acerca das espécies.

Línguas

As línguas que podem ser adaptadas na tabela NOMES COMUNS da FishBase diferem na sua condição. Algumas como o inglês, o francês, o espanhol ou o português estão espalhadas globalmente e têm nomes para espécies que não ocorrem noutros países onde a língua também é falada. Outras, são apenas faladas num país, ou até somente numa região. Estas regiões apenas têm nomes para as espécies que ocorrem nas suas águas. Os utilizadores da FishBase devem estar prevenidos para este facto, quando avaliam a cobertura que damos aos nomes comuns (veja a Fig. 6).


Fig. 6. Vista geral da cobertura dos nomes comuns pela FishBase, em percentagem dos quetro grupos de línguas principais; note que a FishBase compreende também nomes comuns (mais de 9.700 nomes) para outros grupos de línguas
.

Como foi concebida, a tabela NOMES COMUNS permite a entrada de nomes comuns de culturas antigas. Utilizaremos esta característica para introduzir nomes comuns de peixes no Egipto Antigo (de Brewer & Freeman, 1989), Grécia (de Thompson 1947), Roma (de Cotte 1944), da Alemanha Medieval (de Bingen 1286) e outras.

A combinação de um país e de uma língua definem uma cultura

Outras "linguagens" importantes consideradas na FishBase são o AFS, referindo os nomes seleccionados pela Sociedade Americana das Pescas (Robins et al. 1991a e b), FAO/Inglês, FAO/Espanhol e FAO/Francês, referindo as sugestões da FAO para standardizar- ao nível global- os nomes comuns dos peixes nestas três línguas. Para a conseguir esta standardização, a equipa FishBase utilizou os nomes únicos da FishBase (da tabela ESPÉCIES), consistindo num nome FAO, ou se não existente, um AFS, ou se não existente também, um outro nome inglês, seleccionado de entre os nomes existentes usando o critério de Robins et. Al. (1991a). A identificação dos nomes únicos prosseguirá em colaboração com a FAO, a AFS e outros colegas, até que todas as espécies da FishBase, e mais tarde todas as espécies do mundo, tenham um nome comum potencialmente estável.

A Tabela NOMES COMUNS tem várias aplicações

O uso mais óbvio da tabela NOMES COMUNS é o de identificar o nome científico dum peixe. Note contudo, que nomes comuns, não standardizados, podem indicar mais do que uma espécie. Outras utilizações menos óbvias incluem:

  • preservar e tornar acessível o conhecimento etnoictiológico de culturas em extinção (Palomares & Pauly 1993; Palomares et. al. 1993; Pauly et al. 1993);

  • testar hipóteses qualitativas acerca de esquemas de classificação tradicionais (ver por ex., Hunn 1980; Berlin 1992);

  • possibilitar a verificação mútua de factos dos pontos de vista etnoictiológico e científico (como em Johannes 1981); e ainda

  • seguir a evolução linguística através dos nomes comuns de peixes, no espaço e no tempo, e testar hipóteses relacionadas.

Fontes

A informação contida na tabela NOMES COMUNS foi obtida a partir de mais de 860 referências, e.g., Herre & Umali (1948); Blanc et al. (1971); Fisher et al. (1990); Myers (1991); Robins et al. (1991a e b); Fouda & Hermosa, (1993); Grabda & Heese (1991); Moshin et al. (1993).

Status

A verificação dos nomes comuns na versão presente da FishBase foi efectuada comparando nomes de várias proveniências. Assim, Negedly (1990) foi utilizado para verificar mais de 10.000 nomes da FAO, enquanto que Robins et al. (1991b) foi usado para os mais de 4.000 nomes da AFS. Alguns outros foram verificados visualmente para as línguas faladas por cada membro da equipa FishBase (inglês, alemão, francês e vários dialectos das Filipinas). Os 10.000 nomes comuns em inglês e francês foram também verificados utilizando software de verificação ortográfica. Os nomes noutras línguas serão gradualmente verificados através do seu envio a especialistas nessas línguas. Mais de 2.000 entradas, para as quais não existe referência, língua ou local, foram eliminadas da tabela NOMES COMUNS e armazenadas num ficheiro de texto onde aguardam verificação.

Verifique os nomes na sua língua!

É possível produzir listas de nomes comuns por espécies ou por língua na secção Relatórios acessível a partir do MENU PRINCIPAL. Também pode aceder a uma rotina disponível no botão Miscelânea na secção Relatórios, que trata da base de dados do utilizador sobre nomes locais (veja adiante).

O aumento da presente cobertura continuará a dar importância a grandes fontes individuais, e.g. Sanches (1989) para o português, mas incluirá também listas mais pequenas produzidas por estudos etnozoológicos nas Américas, África e regiões da Ásia Pacífico. Colegas interessados em ajudar-nos neste esforço são bem vindos.

Campos

Seguidamente, são descritos em detalhe os campos da tabela NOMES PRÓPRIOS, com ênfase nos campos de escolha múltipla:

Nome: Campo que indica o nome vernáculo ou comum duma espécie, numa determinada língua.

Estádio: Campo que indica o estádio de desenvolvimento da espécie no qual o nome é usado. Este campo possui sete escolhas, a saber: ovo; larva; juvenil; juvenil e adultos; adulto; grande adulto; produto. A última diz respeito, ao nome dum produto derivado duma espécie de peixe e que passa a ter outro nome. Como pode ser o nome dum produto comercial, permite ter acesso aos nomes utilizados na indústria da pesca bem como à etnoictiologia de empresas comerciais.

Sexo: Sexo do indivíduo a que o nome comum se refere. As escolhas são: macho e fêmea; fêmea; fêmea em postura; macho; macho em postura. De notar que frequentemente são dados nomes diferentes conforme o estádio reprodutor em que o peixe se encontra.

A FishBase contém nomes comuns em 160 línguas

Língua: Indica a língua na qual o nome comum está escrito. Estão incluídas 150 línguas por ordem alfabética, desde o árabe ao wolof (Fig. 6). O campo língua encontra-se ligado à tabela LÍNGUA que contém informação sobre taxonomia e o país ou países em que a língua é falada como língua materna. Os dados incluídos na tabela LÍNGUA foram obtidos de Ruhlen (1991) e Grimes (1992) e representam fontes de informação secundária sobre conhecimento local.

A FishBase contém nomes comerciais

Tipo: Campo de escolha que indica a fonte ou uso do nome comum. As escolhas incluem vernáculo, marketing, aquário, FAO, e AFS. A FishBase 99 já inclui todos os nomes comerciais Australianos (Yearsley et al., 1997). Tencionamos incluir também os nomes de comerciais oficiais dos Estados Unidos e Europa.

Etimologia: Três campos de escolha múltipla qualificam cada uma das palavras que constituem o nome, que são decompostos num vocábulo principal e dois modificadores, se eles existem (por ex., em "atum-vermelho-do-Norte") atum é o vocábulo principal, vermelho e Norte são os modificadores. As categorias indicadas nestes três campos foram adaptados de Foale (1998). Para o vocábulo principal: léxema principal; morfologia; padrão de coloração; comportamento; habitat ou ecologia; gosto ou odor; pessoa (genérico); pessoa (epónimo); animal não-peixe; planta; objecto; afinidade; localidade/região; outra/não aplicável.

Um léxema fundamental

Para os modificadores; léxema principal; morfologia; padrão de coloração; comportamento; habitat ou ecologia; gosto ou odor; pessoa (genérico); pessoa (epónimo); outro peixe; animal não-peixe; outro animal; planta; atributo de abundância; atributo de afinidade; localidade/região; outra/não aplicável.

Diversas categorías, además de ‹ patrón de coloración › pueden igualmente evocar indirectamente la coloración de los peces, como ‹ persona (genérico) ›, ‹ animal no-pez ›, etc. El ‹ lancero convicto › se denomina así a causa de las rayas en sus flancos, el ‹ tiburón leopardo › a causa de sus manchas. Esta característica debe ser tomada en cuenta en el análisis cuantitativo de los términos asociados a la coloración.

Várias outra categorias além de "padrão de coloração" podem igualmente evocar indirectamente a coloração dos peixes, como "pessoa" (genérico) etc.. O peixe-cirurgião-raiado é também nomeado em função das faixas nos flancos, o tubarão-leopardo, pelas suas manchas). Esta característica deve ser tida em conta na análise quantitativa dos termos ligados à côr.

Esta aproximação agora desenvolvida para tratar a etimologia dos nomes dos peixes só foi testada com nomes comuns em inglês dos Blennidae, e de alguns outros grupos.

Como chegar lá

Acede-se à tabela NOMES COMUNS clicando o botão Nomes Comuns na janela ESPÉCIES ou clicando duas vezes no nome comum, em qualquer dos relatórios gerados no ecrã.

Agradecimentos

Agradecemos ao Dr. M. Warren pela sugestão de que a FishBase poderia inscrever e estruturar o conhecimento etnoictiológico e a M.T. Cruz pela ajuda na introdução dos nomes comuns. Também queremos agradecer ao V. Christensen e A.J.T. Dalsgaard por verificarem o dinamarquês, Prof. J. Moreau e Dr. C. Lhomme-Binudin que verificaram o francês, S. Kuosmanen-Postila pela verificação do finlandês, A.C. Gücü no turco e ao Dr. R. Froese por verificar os nomes em alemão. Os nossos agradecimentos também a F. Birket, E. Cadima, K. Carpenter, E. Kaunda, K. Ruddle, P. Spliethoff, L. Eldredge, M. Entsua-Mensah, M.H. Teullières-Preston, R. Uwate e Y. Yamada pelas listas de nomes comuns que forneceram, apesar de ainda as não termos introduzido todas.

Referências

Berlin, B. 1992. Ethnobiological classifications: principles of categorization of plants and animals in traditional societies. Princeton University Press, Princeton.

Bingen, H. von. 1286. Das Buch von den Fischen. Edited by P. Riethe, 1991. Otto Müller Verlag, Salzburg, 150 p.

Blanc, M., J.-L. Gaudet, P. Banareseu and J.-C. Hureau. 1971. European inland water fish. A multilingual catalogue. Fishing News Books Ltd., London.

Brewer, D.J. and R.F. Freeman. 1989. Fish and fishing in ancient Egypt. Aris and Philips, Warininster, England. 109 p.

Cotte, M ' J. 1944. Poissons et animaux aquatiques au temps de Pline. Paul Lechevalier, Paris. 265 p.

Fischer, W., 1. Sousa, C. Silva, A. de Freita, J.M Poutiers, W. Schneider, T.C. Borges, J.P. Feral and A. Massinga. 1990. Fichas FAO de identificação de espécies para actividades de pesca. Guia de campo das espécies comerciais marinhas de Aguas salobras de Moçambique. Publicação preparada em colaboração com o Instituto de Investigação Pesqueira de Moçambique com financiamento do Projecto PNUD/FAO MOZ/86/030 e de NORAD, Roma, FAO. 424 p.

Fouda, M.M. and G.V. Herinosa Jr. 1993. A checklist of Oman fishes. Sultan Qaboos University Press, Sultanate of Oman. 42 p.

Froese, R. 1990. FishBase: an information system to support fisheries and aquaculture research. Fishbyte 8 (3):21-24.

Grabda, E. and T. Heese. 1991. Polskie nazewnictwo populame Kraglonsteiryby. Cyclostomata et Pisces. Wyzsza Szkola Inzynierska w Koszaline. Koszalin, Poland. 171 p.

Grimes, B. (Ed.). 1992. Ethnologue: Languages of the world. Twelfth edition.. Summer Institute of Linguistics, Dallas, Texas. 938 p.

Herre, A.W.C.T. and A.F. Umali. 1948. English and local common names of Philippine fishes. U.S. Dept. of Interior and Fish and Wildlife Serv. Circular No. 14. U.S. Gov't. Printing Ofrice, Washington, 128 p.

Hunn, E. 1980. Sahaptin fish classification. Northw. Anthropol. Res. Notes 14(1):1-19.

Johannes, R. E. 1981. Words of the lagoon: fishing and marine lore in Palau District of Micronesia. University of California Press, Berkeley, 245 p.

Mohsin, A.K.M., M.A. Ambak and M.M.A. Salam. 1993. Malay, English and scientific names of the fishes of Malaysia. Faculty of Fisheries and Marine Science, Universiti Pertanian Malaysia, Selangor Darul Ehsan, Malaysia, Occa. Publ. II.

Myers, R.F. 1991. Micronesian reef fishes. Coral Graphics, Barrigada, Guam. 298 P.

Negedly, R., Compiler. 1990. Elsevier's dictionary of fishery, processing, fish and shellfish names of the world. Elsevier Science Publishers, Amsterdam, The Netherlands. 623 p.

Palomares, M.L.D. and D. Pauly. 1993. FishBase as a repository of ethnoichthyology or indigenous knowledge of fishes. Paper presented at the International Symposium on Indigenous Knowledge (IK) and Sustainable Development, 20-26 September, Silang, Cavite, Philippines (Abstract in Indigenous Knowledge and Development Monitor 1(2):18).

Palomares, M.L.D., R. Froese and D. Pauly. 1993. On traditional knowledge, fish and database: a call for contributions. SPC Traditional Marine Resource Management and Knowledge Information Bulletin. (Nouméa, New Caledonia) (2):17-19.

Pauly, D., M.L.D. Palomares and R. Froese. 1993. Some prose on a database of indigenous knowledge on fish.. Indigenous Knowledge and Development Monitor 191:26-27.

Robins, C.R., R.M. Bailey, C.E. Bond, J.R. Brooker, E.A. Lachner, R.N. Lea and W.B. Scott. 1991a. Common and scientific names of fishes from the United States and Canada. Amer. Fish. Soc. Sp. Pub. 20. 183 p.

Robins, C.R., R.M. Bailey, C.E. Bond, J.R. Brooker, E.A. Lachner, R.N. Lea and W.B. Scott. 1991 b. World fishes important to North Americans. Exclusive of species from continental waters of the United States and Canada. Amer. Fish. Soc. Spec. Publ. 21:243 p.

Ruhlen, M. 1991. A guide to the world's languages. Vol. 1: Classification. With a postscript on recent developments. Stanford University Press, Stanford, Califomia. 433 p.

Sanches, J.G. 1989 Nomenclatura portuguesa de organismos aquaticos..Publicações Avulsas do I.N.I.P. No. 14, Lisboa. 322 p.

Thompson, D'Arcy Wenworth. 1947. A glossary of Greek fishes. Oxford University Press, London. 302 p.

Yearsley, G.K., P.R. Last and G.B. Morris. 1997. Codes for Australian Aquatic Biota (CAAB): an upgraded and expanded species coding system for Australian fisheries databases. CSIRO Marine Laboratories, Report 224. CSIRO, Australia.

Maria Lourdes D. Palomares y Daniel Pauly